quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Urgência de viver (crônica)

                                          
       
                                     
       O excesso de urbanidade tem despertado em mim a necessidade incontida do contato com a natureza. Ando sentindo urgência de uma casinha no mato, com árvores de galhos fartos que me abracem receptivos, não de edifícios frios que encobrem o céu e a hospitalidade.
       Tenho urgência de sentir os meus pés caminhando na terra, de respirar o ar acariciando-me com o perfume das folhas e flores silvestres, chegando saudável aos meus pulmões. De ouvir os cantos misturados de pássaros comuns que os farei raros e os admirarei à distância permitida. Prometo-lhes a mais compreensiva companhia e as boas-vindas em bebedouros de água fresquinha, sob frondosas árvores com frutos suculentos, ao ar livre, e não em cruéis gaiolas, penduradas num teto qualquer. Quero-os livres e festeiros na minha janela. Sequer vou me importar que ali façam seus ninhos e se instalem, e ainda lhes garanto protegidos contra os sobressaltos da perseguição.
       Tenho urgência de sentir cães brincando com gatos ao meu redor, contrariando mitos da estranheza e da incompatibilidade entre eles. Quero me encantar com folhas secas e verdes, dançando de mãos dadas ao rodopio do vento. Sei que me trarão aconchego e harmonia, sem interferir no silêncio que há muito não escuto: o barulho ensurdecedor da civilização não me permite mais... Ela é a mão gigantesca que encobre o sol e as noites estreladas.
       Tenho urgência de retomar, ainda, a visão da lua, adentrando seu brilho por todos os vértices da minha casa, salpicando nela perfume e mistério.
        Depois de um tempo, paparicada pela plenitude, por animais e pássaros, vou me permitir a visita de gente sem medo e que também não me assuste com evasivas e invasões, sobretudo com permanências efêmeras.
        Gente que já tenha escrito um ensaio sobre a urgência de essencialidades, sobre vida simples e possa entender o que eu não digo ou não escrevo, mas tão evidente nas entrelinhas...