sexta-feira, 14 de junho de 2013

O silêncio da felicidade (crônica)

               
      Disse-me certa vez um amigo, desses raros, com quem conversamos como se conversássemos com nós mesmos: "Seja discreta na sua alegria e silencie ao máximo a sua felicidade, os ouvidos e a percepção da inveja são mais atentos do que se possa imaginar, quando ela constatar o seu sorriso fácil, aí já será tarde, a felicidade terá tomado o seu assento e se instalado no lugar que lhe foi destinado e no tempo que tem que ser, no tempo da própria vida... "
   Não gostaria de viver muitos anos sem ter vivido intensamente. Quero sempre olhar o amanhecer e constatar que a minha construção pessoal foi consciente, que contribuí permissivamente para ser o que sou. Que fui menos teimosa ou arrogante nos meus propósitos, mas muito mais obstinada. Saudei as minhas vitórias com celebrações discretas, respeitando o adversário, porque também experimentei a derrota um dia, que me fez aprender a perder, o que não significa ter-me acomodado. A canção que entoei nos dias felizes ecoaram nos meus momentos de perdas. Quando estive fragmentada, recolhendo os meu pedaços, entendi que a felicidade requer atenção, é necessário ser feliz com reservas. Faz-me lembrar a roda gigante do meu tempo de criança, naqueles parques coloridos e agitados de músicas e luzes, como se personalizasse a felicidade. A roda girava, girava, ao som da alegria. De repente, ela parava lá em cima, e um calafrio assustador e implacável fazia balançar nos ares as nossas pernas miúdas, sem chão. As estrelas pareciam mais perto, mas a solidez, cada vez mais distante...
   A felicidade pode ser euforia e calafrios, como uma roda gigante. Seremos sempre pequenos e crianças para entendermos os propósitos divinos, tão intraduzíveis quanto inevitáveis. E nunca estaremos atentos suficientemente para não sermos surpreendidos.
   Mas sei, também, que na noite escura há sempre uma estrela, mesmo invisível, porque acredito que ela está lá...
  Sonhadora que sou
  recolho a minha estrela
  e a levo para dormir,
  mas a empresto ao céu,
  quando o céu me pedir...