Quando recordar nos faz tristes, somos saudosistas, mas, se somos capazes de suscitar antigas lembranças com um sorriso aqui, outro ali, ainda que em doídas perdas, estamos sendo tão-somente reminiscentes.
O saudosista se agarra ao passado, quer viver nele, custa-lhe entender que o tempo passou. Suas pernas estão no agora, mas a mente estagnou à sombra de lugares ou de pessoas insubstituíveis nas suas afeições. Muros altos e limosos o impedem de transpor caminhos novos. O reminiscente é como um beija-flor fascinado por suas flores, passeia pelo jardim do passado e tem o dom de nos trazer o seu perfume.
O reminiscente brinca com suas recordações; o saudosista a chora eternamente.
O saudosista nos entristece com suas lembranças; o reminiscente nos emociona.
O saudosista é um navio imenso de madeira tosca, e eternamente ancorado; o reminiscente, um barco inquieto, esfumado ao vento, que vai e volta, vai e volta... com a leveza dos que singram.
O saudosista é um narrador trágico, seus personagens soluçam, cobertos por nevoentas imagens; o reminiscente, um contador de histórias, deitado numa acolhedora rede, à sombra de frondosa árvore, brincando com seus personagens do passado.
O saudosista incorpora a dor e a veste; o reminiscente a despe, e sutilmente a sopra.
O reminiscente nos abraça e no faz dançar iluminados; o saudosista nos tranca num baú de recordações e apaga a luz.
O saudosista é um beduíno solitário e cabisbaixo, na imensidão de um deserto, e nunca chega a lugar nenhum; o reminiscente, um caminhante fagueiro, sedutor e cativante que nos convida naturalmente a caminhar com ele até ali...
O saudosista sobe às montanhas e se senta ao chegar ao topo; o reminiscente se joga lá de cima com suas asas mágicas.
Enfim, o saudosista faz das suas recordações o buraco negro do cosmos, onde nos perdemos e desaparecemos; o reminiscente nos mostra os planetas e seus sóis e, envolvente, nos leva a um passeio pela via-láctea...